quarta-feira, 10 de janeiro de 2007
Qual é a lógica
de se ser simultaneamente contra a pena de morte e a favor da legalização do aborto?
 
posted by Papoila at 17:59 | Permalink |


12 Comments:


  • At 11 janeiro, 2007 10:22, Blogger Sara

    A pena de morte consiste em punir legalmente um malefício com a retribuição de outro malefício.
    A legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez é a identificação de uma situação legal nova, a alteração da lei penal (que já existe) para que não haja punição em determinadas circunstâncias.
    O ser contra e a favor de uma coisa e outra não tem a ver com lógica, mas sim com mentalidades.

     
  • At 11 janeiro, 2007 11:04, Blogger Papoila

    Ok, se calhar foi má escolha minha de palavras. Onde escrevi "lógica" deveria ter escrito "coerência", talvez. E para mim não é coerente um Estado que, por uma questão de Direitos do Homem, diz "ok, a pena de morte não será aplicada em caso algum mas, por outro lado, uma pessoa pode matar outra sem que lhe seja aplicada qualquer punição". Só isto...

     
  • At 11 janeiro, 2007 12:57, Blogger Margarida Atheling

    Talves devesses ter usado coerência, sim.
    Qual é a coerência de ser contra a pena de morte - penalização legal por um malefício grave à sociedade - e a favor da legalização do aborto - morte de um ser humano indefeso que nunca cometeu qualquer falta, por mera opção de outro ser (no caso a mãe)?
    E depois dizer que quem não é a favor da morte destas crianças é intolerante e civilizacionalmente atrasado?! O que é ser evoluido e civilizado e democrático e respeitador da liberdade dos outros, então?

    Beijinhos

    Ps: desculpa a extensão do comentário.

     
  • At 11 janeiro, 2007 14:30, Blogger Sara

    A questão que vai ser colocada no referendo não é a legalização da morte de um ser humano porque o código penal já prevê algumas excepções. A questão está em alargar a uma outra excepção para que deixem de haver abortos clandestinos e se possam controlar as IVG.
    Certamente que a opção de uma mãe pelo aborto não é uma coisa feita de ânimo leve, não é uma mera opção. Eu, muito provavelmente, não o faria. Mas aceito que haja quem tenha coragem de o fazer. Não admito é que o Estado possa impor a concepção de alguns aos demais. A despenalização da IVG não impede a opção pelo não.

     
  • At 11 janeiro, 2007 14:50, Blogger Papoila

    Acredito piamente que nenhuma mulher faça um aborto de ânimo leve; acredito piamente que nenhuma mulher se sinta efectivamente bem ao fazer um aborto; acredito piamente que nenhuma mulher decida fazer um aborto como quem decide ir jantar fora. Acredito nisso tudo porque acredito no Homem. Mas por mais voltas que dê, não consigo aceitar que o Estado passe a mão na cabeça e diga "pronto, já passou" a alguém que realmente matou um seu semelhante, tão "simples" quanto isto...

     
  • At 12 janeiro, 2007 10:03, Blogger Sara

    Isso já tem muito a ver com o conceito de cada pessoa sobre quando começa a vida.

     
  • At 12 janeiro, 2007 12:35, Blogger Joana

    O conceito de vida não é único. Para um jurista, por exemplo, é uma questão bastante discutida, e sem resposta cabal. Havendo dúvidas quanto à protecção jurídica de uma forma de vida intra uterina, penso que prevalece a dignidade da pessoa humana, princípio no qual assenta a Constituição. De uma perspectiva mais específica, podemos atentar no direito à autodeterminação e ao desenvolvimento livre da personalidade. A mulher tem o direito a uma maternidade livre, desejada e consciente. Falando bom português, a mulher não é uma fábrica de fazer bebés, sobretudo atendendo às implicações que uma gravidez tem no corpo e na saúde em geral da mulher.
    A questão que vai a referendo não é se o cidadão é a favor do aborto. Visto desta forma, todos somos contra o aborto. Numa sociedade utópica é claro que o aborto não teria lugar. Numa sociedade utópica há planeamento familiar, há associações que prestam o mais variado apoio a quem precisa, os métodos contraceptivos são infalíveis, toda a gente se encontra em situação perfeita para constituir família. O que vai a referendo é a possibilidade de a lei configurar uma solução que é um "mal menor". Um mal menor que acaba com a hipocrisia, porque toda a gente sabe que se praticam abortos ilegais em Portugal, alguns em condições deploráveis. Quem junta uns trocos vai a Espanha; quem pode (e alguns até fazem campanha pelo Não) vai a Londres.
    E no fim de contas, a questão é deixada na consciência de cada um. Nada é imposto. Quem é contra não faz, mas também não julga os outros.
    Relativamente à pena de morte, sou absolutamente contra (tal como sou contra o aborto). É impensável que o Estado detenha poder de vida ou morte sobre os seus cidadãos. Para além disso, as penas têm uma razão de ser, a qual ultrapassa a mera relação "causa-efeito" (é feito um mal à sociedade, logo o agente tem de ser punido). Um dos objectivos da pena, por incrível e impossível que possa parecer, é a reabilitação do agente. Este objectivo torna-se claramente impossível com a pena de morte. Há ainda que contar com a margem de erro da Justiça, e para isso basta consultar estatíticas disponíveis quanto à aplicação da pena de morte nos EUA, segundo as quais vários condenados à morte foram posteriormente considerados inocentes (ups...).
    Portanto, parece-me possível ser simultaneamente contra a pena de morte e a favor da DESPENALIZAÇÃO da IVG.

     
  • At 12 janeiro, 2007 12:45, Blogger Papoila

    Eu não acho que seja possível ser contra a pena de morte e a favor da legalização do aborto, por uma razão tão simples, básica e elementar como a defesa da vida. Tão só!
    "O que vai a referendo é a possibilidade de a lei configurar uma solução que é um "mal menor". Um mal menor que acaba com a hipocrisia, porque toda a gente sabe que se praticam abortos ilegais em Portugal"
    Certo. Mas também se praticam crimes, assaltos e afins, na maior parte das vezes por pessoas que, se pudessem escolher, não o fariam mas que "não têm alternativa", e não é por isso que não são julgadas/condenadas.
    Quanto a mim, a partir do momento em que uma célula, ou embrião, ou chamem-lhe o que quiserem que eu não sou bióloga, se está a DESENVOLVER e a CRESCER já é um ser vivo, um ser humano, tal como se desenvolve e cresce uma criança de 3 anos.

     
  • At 12 janeiro, 2007 18:22, Blogger Ice-device

    papoila, estou contigo. é engraçado que se jogue com as palavras dizendo que é de despenalizaçao que se trata. Claro. Mal feito fora que os partidários do sim dissessem que o aborto é uma coisa boa e incentivassem a faze-lo.

    E se amanhã fosse despenalizado "assaltar à mão armada" porque por vezes os assaltantes são alvo dos disparos da polícia e depois vão a julgamento o que representa uma humilhação pública?

    fica a dica!

     
  • At 12 janeiro, 2007 18:53, Blogger Sara

    Eh pá, eu não consigo andar a comentar tantos blogs ao mesmo tempo sobre o mesmo assunto. Dou em doida! São argumentos espalhados em demasia. Bora todos pó meu blog que há lá pano pra mangas! :P

     
  • At 12 janeiro, 2007 19:04, Blogger Ice-device

    oh rapariga.... bora lá!

     
  • At 16 janeiro, 2007 01:21, Blogger Piston

    Acho que a questão é complicada demais para se chegar algum dia a um consenso.

    Pega na seguinte situação:
    Mulher faz aborto clandestino, em más condições, morre. Tivemos duas mortes. Não era preferível que o pudesse fazer em condições, num local apropriado e que pudesse, pelo menos, salvar a sua vida?

    Dir-me-ás que a solução era não abortar.

    Eu só te respondo que "ela" o iria fazer de qualquer das formas. Morreu porque não teve uma terceira hipótese.