segunda-feira, 13 de novembro de 2006
Pai
não é fácil, sabe? Crescer no meio de uma família numerosa, que eu adoro, mas onde se sente sempre que os Pais não se amam.

Crescer filha de um casal diferente dos padrões habituais à época. Porque hoje em dia tudo é normal, praticamente. Pais casados, pais separados, pai mais velho, pai mais novo, irmão da parte da mãe irmão da parte do pai irmão da parte de ninguém...

Tudo é aceitável hoje em dia, ou fui eu que mudei as lentes?

Mas há quê?, 20 anos atrás tudo era diferente. E claro, só notei a diferença quando fui para a escola primária. E essa (essas!) diferença acompanhou-me sempre, sempre, até ao final da adolescência. Primeiro não sabia que era diferente o ter uma Mãe mais velha. Sabia apenas que era mais velha que o normal. E por causa disso desde nova, desde demasiado nova, que tive medo da morte. Não da minha, mas das pessoas que me rodeiam. Na altura da da Mãe, que era, por um lado, a pessoa que estava sempre (sempre!) comigo e, por outro, a pessoa que eu sentia mais vulnerável e mais frágil por causa da idade. Não que eu não gostasse de si, longe disso. Era, e é, o meu Pai. A pessoa mais inteligente que eu conheço. A pessoa que sabia tudo, todas as respostas a todas as minhas perguntas e ainda assim respondia-me sempre que eu perguntava o significado de alguma palavra "Já foste ver ao dicionário?". Deve ser por isso que ainda hoje sou tão curiosa e gosto tanto de desfolhar enciclopédias. Mas continuando, não que não gostasse de si ou não tivesse medo de o perder. Simplesmente acho que essa hipótese não se punha na minha cabeça. O Pai era o Pai! Sabia as respostas todas, sabia o nome de todas as árvores, de todos os animais, de todas as estrelas. Sabia distinguir os cogumelos bons dos venenosos, era incapaz de matar uma aranha que fosse (infelizmente essa qualidade eu não consegui adquirir...), ia à pesca de noite sozinho (sozinho!!!), tirava-nos fotografias com uma máquina toda XPTO e viajava em trabalho e trazía-nos coisas que mais ninguém tinha... Acho que para mim era como se fosse imortal...

A Mãe... era mais velha, mais fraca, volta e meia com os seus achaques. E depois as discussões... Não que tenha ficado traumatizada, longe disso. Quer dizer, não suporto discussões, ainda, mas acho que é normal, ninguém gosta não é? Muito menos se envolverem gritos. Sou extremamente sensível e com os nervos à flor da pele (tudo, tudo! me faz chorar) mas acho que simplesmente... sou assim! Não é concerteza fruto das discussões (tantas, tantas...) a que assisti.

Mas tinha sempre medo que a Mãe se fosse embora, de uma maneira ou de outra... Aliás, não foram poucas as vezes que ela o ameaçou fazer, nem foram poucas as vezes que foi para o hospital com os tais achaques... O Pai não, o Pai estava sempre lá, nunca fez uma ameaça deste tipo.

É certo que era o mais exigente, em tudo. Sei lá, parece que tinha (tinhamos será mais apropriado) obrigação de ser perfeita. Na escola principalmente. Era o encarregado de educação, apesar de ser a Mãe que ia à escola quando havia algum problema com algum de nós (problema esse que invariavelmente tentávamos todos que o Pai não soubesse) e de ser também a Mãe que ia às reuniões de final de período. Mas a correspondência, essa, vinha para si. Negativas nos testes? Deus nos livre! Daí o meu perfeccionismo? Não sei... E quando era a hora das refeições? O que eu era um pisco para comer... E o Pai e insistir, insistir, insistir para eu comer... Antigamente não havia aquelas teorias todas que há hoje em dia sobre educação, que não se deve insistir, se a criança não quer mais não come blablabla. Eu isso subscrevo na íntegra, mas também acho que o comer é um hábito, que como todos os outros também se educa. Um bebé quando nasce não conhece o sabor dos espinafres, porque raio é que há-de gostar mais de doces???

Bom, mas tudo isto para dizer que gosto muito de si, apesar de nunca o ter dito...

Tenho um orgulho IMENSO na pessoa que é, na educação que me deu e nos horizontes de me alargou.

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posted by Papoila at 17:05 | Permalink |


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